A vida real sem rede social

Toda mudança tem o lado positivo e negativo, por melhor resultado que possa trazer a longo prazo. E, como se não bastasse testar um monte de coisa, desapegar de outras tantas e desconstruir vários conceitos, decidi ficar um tempo sem redes sociais. Em novembro, desativei a conta no Facebook e virei o ano saindo do Instagram. 

"Ah, não deleto minha conta porque não quero perder o contato com pessoas que estudei há tempos ou por não deixar de ser convidado para eventos". Super entendo quem diz isso, mas não sei até que ponto acredito depois de quase 6 meses sem contato com a vida alheia - ou o que acontece no mundo.

Confesso que às vezes dá uma leve sensação de exclusão em não saber de uma notícia ou algum acontecimento, mas de uma forma ou de outra, a informação sempre chega. Seja por um amigo, familiar ou uma pessoa aleatória comentando no café. A questão é: até que ponto estamos preparados para saber das coisas depois de todo mundo?

Em 2017, tudo é pra ontem. Uma selfie ou um tweet já antecipa o que, há alguns anos, seria uma boa matéria de jornal e esgotaria nas bancas. A novidade hoje é instantânea e quem não está sabendo, está desatualizado. A aceitação, embora muitos ainda não externalizem que não dependam de uma quantidade de curtidas, é real: como você se sente quando tem 3 likes e qual é a sensação quando tem mais de 30 em uma foto? E se roubassem todas as últimas curtidas que seu post teve?

Não fiquei sabendo de alguns eventos, mas para aniversários, foi incrível como alguns colegas chegaram até mim e disseram "não consegui te marcar num evento, mas olha, meu niver é tal dia". Ou então, alguns outros que mandaram mensagem no WhatsApp ou simplesmente acionaram meu marido, perguntando se eu estava bem e como poderia me encontrar. 

As pessoas, sim, elas vieram. Claro que senti falta dos memes legais que me marcavam, mas estes, continuaram chegando também, mesmo que via messenger ou whatsapp. 

 

Mas tá, o que te fez sair das redes sociais, Aline?

Um episódio específico de Black Mirror (Nosedive - da imagem ali acima) me fez ver como eu estava levando a vida - e como muitos levam. Basta olhar na rua, quantos estão no celular ao invés de prestarem mais atenção ao real, ao presente? Se houvessem balões em cima das pessoas, muitos estariam na cor amarela, de ausente. Sabe, aquele status do Skype/MSN? Eu não queria mais ficar daquele jeito.

Aí fiquei sem Facebook, mas continuei no Instagram. Aquela exposição toda das pessoas começou a me irritar, e as publicações das "digitais influencers" da vida, pior ainda. Parecia um mercadão de venda de estilo de vida. De roupa, de comida, de escolhas, opiniões.

Imagine que eu, no auge da minha desconstrução e lendo sobre tantos conceitos por aí, comecei a me deparar com tanta informação que chegou um momento que precisei de um PARE. Pare, chega de ler. 

Comecei a sentir uma pressão estranha e mesmo que ninguém me falasse, estava me sentindo pesada. Seja de feminismo, de veganismo, consumo, minimalismo, de qualquer coisa que eu estivesse aprendendo. Pra mim, o Instagram parecia um ringue. Tudo o que eu fazia parecia insuficiente ou errado perto do que aquelas pessoas, "tão acima" de mim.

 Chegou Maio, e eu mudei de emprego bem na época de transição da marca e de propósito da empresa... e eu queria fazer parte daquilo. Aí voltei - acessando 1x por dia o feed (e olhe lá).

Ainda tá sendo difícil tanta exposição, tô me sentindo diabético quando come açúcar. Postagem nos Stories da vida pra mim então, não desce. Tô naquela de pensar se um dia vou aceitar bem novamente, ou se ficamos nesse chove-não-molha.

Então olhe só, não tenho uma conclusão favorável ou negativa, ou se aconselho ou não as pessoas a darem um tempo nas redes sociais. Só digo que: a vida é tudo que se passa aqui fora. Lá dentro, é só mais uma "matrix". Faça amigos aqui fora, não seguidores lá dentro - até porque, vai ver que é bem mais difícil de marcar um café presencial do que ter um comentário numa foto.

Eu testei um pouco mais que 6 meses sem rede social e garanto: você não será esquecido num canto escuro do mundo.


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